Inaugurada no dia 20 de fevereiro, o Movimento Popular Maria Geruncia de Jesus agora tem uma sede em Porto Feliz. Essa ação, reafirma o compromisso da entidade em promover educação popular, formação política e cidadã e fomentar a participação popular, como está estampado na sua página oficial do facebook.
Uma das iniciativas do Movimento, é o Cursinho Popular que, segundo a página da entidade, “tem como principal objetivo a preparação para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e vestibulares, valorizando a formação política dos estudantes e a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária, através do acesso ao ensino superior”.
Estudantes a partir de 16 anos e pessoas interessadas tiveram até o dia 03 de março para se inscreverem no Cursinho. De acordo com o Movimento, a previsão para o início das aulas é para o dia 12 de março. As aulas serão ministradas por professores voluntários no prédio da Escola Estadual Prof. Esther Maurino Rodrigues, localizada no bairro Jardim Vante.
Para saber mais sobre o Movimento, conversamos com Fábio Corvo, Vice-Presidente do Movimento Popular Maria Geruncia de Jesus. Ele também é Vice-Presidente do Partido dos Trabalhadores de Porto Feliz e, por ser da direção do PT municipal, tem uma visão de que o partido seja uma ferramenta de lutas sociais, fortalecendo e servindo como ferramenta para essas bases.
Pergunta: De onde surgiu a ideia de se criar um movimento popular em Porto Feliz?
Fábio Corvo: Criamos um grupo de WhatsApp em 2016 chamado “Progressistas de Porto Feliz” e nesse grupo, começamos a debater a política. Chegamos a conclusão de que esse grupo estava recheado de informações importantes e que ele deveria ser compartilhado, não faria sentido que todo aquele acúmulo de teorias não fosse colocado na prática. A partir desse momento, começamos a pensar em formas de colocar isso na prática, e iniciamos bate-papos presenciais para falar sobre os temas, e quando nós conhecemos o Movimento Popular Práxis, de Tatuí, houve uma convergência muito grande. Nos sentimos contemplados com a iniciativa e pensamos em formas de adaptar à realidade de Porto Feliz, mantendo a ideia dos Laboratórios Populares, trazendo as pessoas para participar da política e fazendo formação política na prática.
Pergunta: Como vocês escolheram o nome? Quem foi Maria Geruncia?
Fábio Corvo: Quando nós começamos a discutir qual seria o nome do Movimento, pensamos em homenagear uma mulher, preferencialmente uma mulher negra, ligada à educação popular. Procuramos o Professor Carlos Carvalho Cavalheiro, que é uma referência na história da população negra da região de Sorocaba, e ele havia citado a Professora Maria Geruncia de Jesus em seu livro: “O Negro em Porto Feliz”, e sugeriu esse nome. Maria Geruncia foi uma professora, ela presidiu a Seção Porto-felicense da Frente Negra Brasileira na década de 30 e lutou pela democratização da educação e pela prática da educação popular. Futuramente pensamos em desenvolver, junto com o Professor Carlos, uma pesquisa sobre a vida da Professora Maria Geruncia, que é uma mulher que representa os nossos valores e as nossas bandeiras: mulher, negra, que lutou pela educação popular na cidade e fez parte do movimento anti-racista na década de 30.
Pergunta: De que forma vocês esperam que o Movimento impacte a cidade?
Fábio Corvo: Hoje nós temos duas metas objetivas, a primeira é o Cursinho Popular, que vai empoderar a população da periferia, democratizando o acesso à educação e contribuindo para que eles ingressem na universidade, formando cidadãos conscientes e engajados socialmente. A ideia é promover a desinfantilização (sic) da discussão política e tornar a população protagonista da sua própria história. E a segunda meta são os Laboratórios Populares, que também vem nesse sentido, pois através deles conseguimos fazer formação política na prática, juntando por exemplo uma parcela da população que queira discutir a educação, nesse processo, as pessoas trazem as ideias e juntos nós pensamos nos caminhos para transformar aquilo em realidade. Hoje nós temos uma crise de representatividade, as pessoas votam no político e esperam que ele faça aquilo que elas desejam nos 4 anos de mandato, a relação termina no voto. Com os Laboratórios Populares, a relação inicia no voto e a partir de eleito, ele tenha canal de comunicação com a sua base, em Tatuí existem vereadores populares e as pessoas trabalham tanto quanto o vereador eleito, que fiscaliza junto, traz as demandas e até pauta o que vai ser abordado nas sessões, como votar nos projetos e se portar nas comissões, é um processo construído junto com as bases.
Pergunta: Qual foi a opinião de vocês sobre a inauguração? Superou as expectativas?
Fábio Corvo: Ainda não fizemos uma reunião para avaliar tudo o que aconteceu, mas nós estamos bastante satisfeitos, gostamos do impacto causado no bairro e de poder contribuir para furar a bolha, foi muito interessante ver as pessoas passando na rua, parando para acompanhar, concordando com as falas e poder conscientizar sobre as perdas de direitos que as pessoas tem perdido desde o governo Temer e agravado pelo governo Bolsonaro, até porque não tem muito a ver com discurso partidário, mas sim com a realidade, todos vamos no mercado e percebemos a escalada no preço dos alimentos, é depressivo. Nós também ficamos muito felizes com a participação de militantes históricos da esquerda porto-felicense, com a participação de pessoas que às vezes tem medo de se posicionar publicamente pois não se sentem seguros, de lideranças regionais como a Iara Bernardi, a Regina e a Elaine do movimento negro de Sorocaba, o vereador Sallum e membros da Casa da Práxis, o Professor Carlão, que foi uma referência para a educação de Porto Feliz, Julio Yamamoto, Presidente do PT de Porto Feliz, Professor Miguel Arcanjo, representando a REDE Sustentabilidade, mas mais do que a quantidade, a qualidade dos que estiveram presentes, podendo reunir não só os partidos, mas também os movimentos sociais, militantes, simpatizantes, população em geral, além dos movimentos culturais, como Crazy The Beat Crew, rap, poesia, dança do ventre. Resumindo, foi extremamente motivador, uma verdadeira recarga de baterias e nós esperamos que essa seja a primeira de muitas atividades.
Pergunta: Deixe uma mensagem para quem está lendo
Fábio Corvo: Eu desejo muita luta nesse ano decisivo, para podermos brecar o avanço do fascismo no nosso país. Eu sempre digo que derrotar o Bolsonaro nas urnas é um meio, mas não é o fim, porque depois precisamos combater o bolsonarismo na sociedade. Precisamos fazer a disputa pela mente das pessoas e pela narrativa, vencendo nas urnas e para isso acontecer, precisamos ouvir os movimentos populares, como o Maria Geruncia, ouvindo os coletivos, as bases, entrar nas periferias, nas favelas, no chão de fábrica. Precisamos retomar as ideias do PT dos anos 80, retomando os núcleos de base, através dos Núcleos de Vivência, Estudos e Luta, ocupando um espaço que já foi nosso mas que infelizmente acabamos nos afastando com o tempo. Não podemos nos pautar pelas pesquisas, achar que a eleição está ganha e que em primeiro de janeiro de 2023 nossa vida vai estar resolvida, não vai, será o começo de muito trabalho, nossas bases populares precisam estar nas ruas, governando junto com o Presidente Lula, e também pressionando, porque o governo vai sofrer muita pressão de setores da classe média e da burguesia, para que possamos garantir a revogação do teto de gastos, da reforma da previdência e trabalhista. isso só vai acontecer com o povo mobilizado. Muita organização e muito trabalho de base neste ano, assim como propõe o Movimento Popular Maria Geruncia de Jesus, trazendo formação popular e governando junto com aqueles que elegemos.
Conheça mais sobre o Movimento Popular Maria Geruncia de Jesus através de sua página no facebook: https://www.facebook.com/mpmariagerunciadejesus. A Central de Movimentos Populares, Casa de Maria Geruncia, fica localizada na Avenida Sílvio Brand Correia, nº 952, Casa A, no bairro Jardim Vante.
Fotos: Arquivo Movimento Popular Maria Geruncia de Jesus.
Texto: Léo Rocco, monitor da Jornada Nacional de Formação Política do Partido dos Trabalhadores.
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