Nesta sexta feira (7 de agosto), o governador João Dória anunciou nova data para reabertura das escolas, transferindo de 8 de setembro para 5 de outubro. A previsão anterior, anunciada no dia 24 de junho, contava com que todas as regiões do estado estivessem na zona amarela do “Plano de Reabertura”. Ainda estamos longe disso, mas novamente o governador propõe uma data apressada na tentativa de criar uma narrativa de que a crise já foi superada.
No dia de hoje, no novo balanço do plano, apenas 7 das 22 subdivisões do estado não estão ainda na fase amarela, sendo elas: Registro e Franca, na fase vermelha, e Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Barretos, e as regiões Oeste e Norte da Grande São Paulo, na fase laranja. Contudo, esse novo cenário só foi permitido pela flexibilização dos critérios propostos inicialmente, de forma a acelerar a reabertura, mesmo sem resultados concretos na redução dos casos. Fossem ainda os critérios anteriores de lotação de leitos de UTIs (no máximo 70% de lotação para avanço), ainda estariam na fase laranja as regiões: São Paulo (capital), Bauru, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Sorocaba e Taubaté.
Ao contrário do discurso construído pelo governo, a curva de casos e óbitos não está em queda. A curva de casos ainda apresenta uma tendência crescente e a curva de óbitos apresenta há mais de 60 dias média superior à 250 vítimas fatais de coronavírus no estado. Mais uma vez, a pressa de Dória, em resposta à pressões do setor privado de ensino, pode colocar em risco milhares de vidas.
Figura 1: Novos casos confirmados por dia no estado de SP até 06/08/2020
Fonte: Seade. Elaboração própria.
Figura 1: Novos óbitos por dia no estado de SP até 06/08/2020
Fonte: Seade. Elaboração própria.
Enquanto isso, municípios passam a discutir medidas individualmente de reabertura ou não, como é o caso por um lado, da Câmara Municipal de São Paulo, que aprovou nesta semana medidas de afrouxamento ao retorno das aulas; e de outro, de prefeituras do ABC que têm apontado para manutenção das aulas remotas até o fim do ano. A descoordenação entre as esferas de governo é uma das principais e mais perversas marcas da gestão da crise do coronavírus não só no estado, mas nacionalmente.
Mais uma vez, Dória impõe uma data para retomada sem que haja indícios de melhora da situação e viabilidade sanitária para que ocorram em segurança. Sem, muito menos, qualquer perspectiva de que até a nova data estipulada para o retorno tenha alguma vacina. Tampouco houve uma preparação suficiente da infraestrutura das escolas para isso. Nesse cenário, mães, professores e médicos já se manifestaram contrariamente ao retorno nessas condições. Um processo tão importante como esse, que impacta diretamente tantas pessoas, deve ser determinado por políticas coordenadas intersetorialmente saúde, assistência social e educação. De lá para cá, pouco parece ter avançado, mas muito se apressado.
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