A imagem e a notícia registradas acima são apenas um exemplo de como a imprensa internacional vem cobrindo com interesse os discursos, entrevistas e reuniões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Nova York, onde proferiu o discurso de abertura da Assembléia Geral da ONU, na última terça-feira (19).
Com Lula, o Brasil voltou a ser notícia e a ser respeitado como um dos países mais influentes na governança global. Além da figura de Lula em si, que inspira admiração e respeito em todo o mundo, as ações efetivas do governo brasileiro em assuntos de interesse internacional também têm atraído a atenção do planeta.
Nesta quarta-feira (20), por exemplo, o governo brasileiro anunciou, a ampliação de sua meta de redução de emissão de gases de efeito estufa.
Na abertura da Cúpula da Ambição Climática, evento que integra a programação da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, leu uma carta em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que amplia de 37% para 48% a meta brasileira de redução de emissões até 2025 e de 50% para 53% até 2030.
“Não basta zerar o desmatamento para resolver a questão da mudança do clima. O mundo requer uma transição energética mais ampla. O Brasil, que já tinha uma das metas climáticas mais ambiciosas do mundo, decidiu ir além. Tenho a satisfação de anunciar hoje que vamos atualizar nossa contribuição nacionalmente determinada no âmbito do Acordo de Paris. Vamos retomar o nível de ambição que apresentamos originalmente na COP21 e que tinha sido alterado no governo anterior”, destacou o documento.
“Isso apesar de nossas responsabilidades históricas serem incomparavelmente menores que as dos países ricos. Já estamos agindo para retornar nossas ambições à realidade”, continuou Marina, mantendo a leitura da carta.
Um dia antes, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitou o encontro internacional para anunciar que o governo brasileiro emitirá os chamados “títulos verdes”, que buscam atrair investimentos para projetos no Brasil de energia renovável e produção industrial de baixo carbono.
O objetivo é captar US$ 2 bilhões – cerca de R$ 10 bilhões, na cotação atual – na Bolsa de Nova York. Segundo o ministro da Fazenda, o valor ainda não está definido, uma vez que a palavra final será do Tesouro Nacional, dependendo, também, do interesse a ser despertado nos investidores estrangeiros. A ideia é a de usar esses recursos no financiamento de projetos ambientalmente sustentáveis.
Lula e alguns de seus ministros têm se reunido com empresários e com autoridades do governo norte-americano. Nesses encontros, o governo brasileiro tem buscado atrair o interesse do investimento estrangeiro para projetos sustentáveis. Haddad disse ter concluído um road show em 36 eventos diferenciados.
“Já atendemos mais de 60 fundos de investimento. A receptividade é a melhor possível, sobretudo porque esse recurso fica carimbado para financiar projetos sustentáveis, com taxas de juros mais convidativas do que nós temos hoje”, informou o ministro.
Sobre o valor dos títulos verdes, estimado em R$ 10 bilhões, segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Haddad disse que esse é o “começo de um processo”.
Mas quem mais chamou a atenção internacional foi o presidente Lula, com um discurso em que conclamou o mundo a se unir no combate à desigualdade, ressaltou que o problema está na raiz de desafios urgentes como a pobreza, a fome, o desemprego e as mudanças climáticas, entre outros.
Lula fez críticas e cobranças aos países ricos e ao sistema de governança global, dos quais, segundo ele, falta vontade política para trabalhar por um mundo mais justo e igualitário.
“O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe”, afirmou o presidente. “É preciso, antes de tudo, vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo”, acrescentou, reforçando a bandeira que tem empunhado nos diversos fóruns multilaterais de que participa.
Ele reafirmou que o Brasil, ao assumir a presidência do G20 em dezembro, terá como pauta principal o combate a todas as formas de desigualdade. “Não mediremos esforços para colocar no centro da agenda internacional o combate às desigualdades em todas as suas dimensões”, disse.
“Sob o lema Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável, a presidência brasileira vai articular inclusão social e combate à fome; desenvolvimento sustentável e reforma das instituições de governança global”.
O presidente enfatizou que a desigualdade precisa inspirar indignação. “Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo ao nosso redor”, disse.
Para Lula, “a ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno, mas só o fará se seus membros tiverem a coragem de proclamar sua indignação com a desigualdade e trabalhar incansavelmente para superá-la”.
Preconceito
Em sua oitava participação no evento, Lula foi o primeiro a discursar, seguindo a tradição da ONU que atribui ao governo do Brasil a manifestação inicial. No discurso, ele afirmou que a desigualdade está na origem também das dificuldades de acesso à educação e aos serviços de saúde, da insegurança energética, das crescentes tensões geopolíticas, da intolerância e do preconceito:
“O racismo, a intolerância e a xenofobia se alastraram, incentivadas por novas tecnologias criadas supostamente para nos aproximar. Se tivéssemos que resumir em uma única palavra esses desafios, ela seria desigualdade. A desigualdade está na raiz desses fenômenos ou atua para agravá-los”.
A imprensa internacional repercutiu positivamente os posicionamentos brasileiros. No britânico The Guardian, o jornalista Patrick Wintour definiu que o discurso do brasileiro recolocou as fichas do Brasil como “o verdadeiro líder do Sul Global”.
A Al Jazeera, do Catar, deu destaque às falas do presidente em favor da proteção das florestas e contra a desigualdade global, além da adesão do Brasil a uma agenda multilateral.
O russo RT destacou a proposta de reforma do Conselho de Segurança da ONU. “Lula insiste na urgência de reformas no Conselho de Segurança da ONU”, afirmou o veículo. Já a fala de Lula sobre a possibilidade de golpe na Guatemala repercutiu no país, e foi replicada em jornais como o Prensa Libre e La Hora.
O português Diário de Notícias ressaltou que o “presidente do Brasil aponta dedo a países ricos sobre crise climática e a “aventureiros de extrema direita”
O espanhol El País decidiu valorizar o discurso de Lula sobre a Guerra da Ucrânia e colocou Joe Biden na linha fina: “Lula pede “diálogo” à ONU para acabar com a guerra na Ucrânia”.
Como disse o presidente em Nova York, o Brasil voltou.
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