O Setorial Estadual de Saúde de São Paulo do Partido dos Trabalhadores manifesta preocupação com as consequências da flexibilização do uso de máscaras em ambientes fechados em todo o estado. O decreto de João Doria, publicado em edição extraordinária do Diário Oficial de 17 de março, surpreende pela precipitação da medida sanitária, no apagar das luzes de seu governo e em ambiente de campanha pré-eleitoral. Em sua conta no Twitter, Doria afirmou que tinha acabado de assinar o decreto com base em informes do comitê científico que o assessora e que os indicadores de transmissão, internações, ocupação de leitos de UTI e mortes têm baixado, mesmo após o feriado de Carnaval.
Embora haja expectativa da OMS e da OPAS de estarmos caminhando para o fim, é preciso dizer que a pandemia ainda não acabou e esse trajeto para o final pode demandar tempo e ações bem planejadas, sempre acompanhando o comportamento do vírus no resto do país e no mundo.
Após o anúncio da liberação do uso de máscaras, não faltaram críticas de entidades, como Abrasco, Fiocruz, Sociedade Brasileira de Infectologia, e de proeminentes especialistas. Os indicadores em baixa, são boa notícia, mas as variantes continuam a surgir. Agora mesmo a subvariante BA.2 preocupa pela velocidade de transmissão e porque em poucas semanas será prevalente sobre as demais. Há também uma subvariante que combina material genético das variantes Delta e Ômicron, chamada Deltacron, e isso é só uma das mutações do coronavírus.
Até o presente momento, as vacinas disponíveis têm se mostrado eficazes, no entanto, o coronavírus continua a se recambiar e recombinar em variantes e subvariantes, em constantes tentativas de se adaptar ao hospedeiro humano. Isso em um mundo onde a vacinação é indicador de gritante desigualdade socioeconômica.
Os países ricos compraram vacinas e vacinaram quase a totalidade de sua população. Já os países pobres lutam com índices vacinais baixíssimos, com lotes de vacinas doados. Essa disparidade é um terreno fértil para o surgimento de variantes do coronavírus, que terão um espalhamento global, em países ricos e nos pobres também.
Como o Brasil não fechou suas fronteiras e aeroportos, a qualquer momento, pode entrar no país e se disseminar uma variante nova ou surgir por aqui mesmo, entre nós.
Neste momento, há um aumento significativo de casos na Europa e na Ásia. Testagem em massa, monitoramento e medidas como distanciamento social, uso de álcool em gel e de máscaras continuam sendo barreiras importantes de contenção da transmissão.
De forma precipitada, Doria liberou o uso de máscaras em ambientes fechados, alguns dias depois de flexibilizar seu uso em ambientes abertos, sem ter havido tempo de avaliação de impacto, sem estudos. Todos os ambientes agora estão liberados, exceto aeroportos, hospitais, estações de ônibus, trens e metrôs, e no interior dos transportes públicos.
E as escolas, creches e universidades? As casas de repouso, academias e repartições públicas? As reuniões públicas de conselhos e câmaras legislativas? Difícil entender o critério técnico por trás dessa controversa recomendação sanitária, contestada em peso pelos profissionais de saúde.
Repentinamente, abriu-se um leque muito grande de possibilidades de aumento de transmissões, internações, ocupações de leitos de UTI e mortes. Esperamos que não aconteça, mas não houve o esforço da gestão pública até o fim da pandemia e isto pode ter um custo em vidas.
Pelas razões expostas, o Setorial Estadual de Saúde do PT repudia a flexibilização do uso de máscaras em ambientes fechados, sem estudos completos, de afogadilho e às vésperas do desligamento do governador Doria para se candidatar à presidência da república, o que ressalta o oportunismo eleitoral da medida.
Desejamos que a população do estado de São Paulo em breve volte a ter um gestor público que se baseie na melhor opção técnica para a saúde pública na tomada de decisões.
Setorial Estadual de Saúde de São Paulo
Partido dos Trabalhadores