Ser LGBT no Brasil é resistir! Foi esse o sentimento que marcou os dias que antecederam a Parada LGBTQIAPN+ de São Paulo, a maior do mundo
Por Marcelo Morais¹
O mês de junho, marcado pelas lutas do Orgulho LGBTQIAPN+, também foi marcado por um conjunto de debates da militância da nossa comunidade, que pauta nossas lutas na sociedade o ano inteiro. Assim, a Parada de São Paulo encerrou – em grande estilo – um ciclo de discussões, no qual entidades e organizações do movimento social trouxeram dados alarmantes sobre a violação de direitos e as vulnerabilidades as quais pessoas LGBTQIAPN+ são submetidas, com recortes específicos para a população de travestis e transexuais.
Parte dessas principais demandas que o movimento social reivindica foram apresentadas como pontos centrais pelo Governo Federal no programa “LGBTQIA+ Cidadania”, sendo um pacto contra a vulnerabilidade da nossa comunidade, assim como um estímulo à formação e empregabilidade.
É importante destacar a organização dos movimentos sociais que, com uma série de espaços para debates, conseguiram aproximar pessoas e organizações com espaços institucionalizados do Governo Federal como Secretarias Nacionais e Coordenadorias. Quero mencionar aqui o lançamento das iniciativas Voto com Orgulho, que tem por objetivo estimular candidaturas e dar suporte para pessoas LGBTs e o lançamento do Projeto Pajubá, que tem como foco a criação de dados sobre organizações LGBTs do terceiro setor. Assim como o encontro da Rede Trans Brasil, trouxe uma série de pessoas que estão na gestão de ministérios, para dialogar com pessoas e organizações do movimento social. Também não poderia deixar de mencionar o lançamento do Selo LGBTQIA+ pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.
Nós, pessoas LGBTQIAPN+, tivemos papel fundamental na derrota do Bolsonarismo, em 2022, construindo uma contranarrativa para as pautas-bomba diariamente apresentadas pelo Gabinete do Ódio, e mesmo com nossa voz sistematicamente silenciada na produção de políticas públicas (e sob risco de retrocesso nos poucos direitos conquistados) trouxemos para as ruas da cidade de São Paulo três milhões de pessoas em 2019.
O momento segue sendo de luta e de organização. Portanto, ocupar as ruas e se posicionar do lado dos direitos humanos e da defesa da vida de pessoas LGBTQIAPN+, nesse momento, garantirá a existência do nosso projeto nos próximos anos, ainda mais se considerarmos que estamos em um ano de eleições municipais e no qual vários dos municípios estão se mobilizando para a realização das Conferências Municipais que debaterão as pautas e bandeiras da nossa comunidade em seus municípios. Discutir uma agenda de políticas públicas com moradia, saúde, educação, mobilidade, cultura, esporte, lazer, segurança e a inclusão de pessoas LGGBTQIAPN+ no orçamento é fundamental para a construção de municípios mais diversos, inclusivos e acolhedores para todas as pessoas.
Por fim, a realização de uma Parada LGBTQIAPN+ que traz com ela o mote do patriotismo e a retomada dos símbolos nacionais, certamente se mostrou um instrumento de mobilização e de construção de síntese e reforço de redes que estarão mais fortalecidas e qualificadas para o próximo período. Ocupar as ruas, as redes e as instituições com nossas lutas, nossas cores e nossas bandeiras é o maior ato revolucionário que poderemos realizar no próximo período. Parafraseando nosso corajoso e gigante Ministro Silvio Almeida: nós, pessoas LGBTQIAPN+, existimos e precisamos ser de fato importantes para o Estado brasileiro.
¹ Marcelo Morais é administrador público de formação e atuação e atual Secretário Estadual LGBT do PT de São Paulo.
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